I.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho
tem como tema “influência das queimadas descontroladas na desadaptação
biológica e fragmentação do habitat em Moçambique”, Falar de queimadas
descontroladas no âmbito da desadaptação biológica e fragmentação do habitat
remete-nos a lembrarmo-nos que todos os sistemas da terra viva são interligados
e nenhum deve ser desagregado do outro, porque quando isso acontecer estaremos
a matar a terra viva.
Ao longo do
trabalho pode-se encontrar várias abordagens sobres as queimadas descontroladas
em Moçambique, que não sua maioria é perpetrada pelo ser humano através de
práticas tradicionais de cultivo. Sendo que Moçambique faz parte do mundo,
então a preocupação pode ser global.
1.1.Problematização
A queimada no solo é uma prática antiga, porém, ainda
muito usada nas propriedades para limpar a superfície da terra e “prepará-la”
para um novo plantio. Mas, usar o fogo com essa finalidade não traz benefícios
e, sim, prejuízos tanto ao solo como também aos recursos naturais e à produção.
Na maioria dos
países do mundo, em particular da África subsaariana, as queimadas fazem parte
do modo de vida das populações rurais como meio de gestão da terra e dos
recursos naturais. Muitas destas queimadas acabam tornando-se descontroladas,
devido às proporções que atingem, por desconhecimento das melhores práticas
para o seu controlo e às vezes por simples negligência dos seus autores.
Moçambique como na
maioria dos países tropicais, a área florestal tende a diminuir a um ritmo
relativamente acelerado, não só pelo aumento demográfico, derrube para fins
agro-pecuários, mas também devido à prática de queimadas descontroladas. As
queimadas ocorrem anualmente em todo território nacional, durante o período
seco e no início das campanhas agrícolas e de caça. O MICOA (2007) aponta que
existem várias regiões em que se acentuam as queimadas como por exemplo “Região I, com maior índice de queimadas
descontroladas, inclui quase a totalidade das Províncias de Niassa, Tete e
Manica, acrescida a parte ocidental de Cabo Delgado, Nampula, Zambézia e
Sofala; Região II, que engloba as
partes centrais das Províncias de Cabo Delgado, Nampula, Zambézia e Sofala e as
províncias do Sul do Save, Maputo, Gaza e Inhambane; e Região III, a menos sujeita a queimadas descontroladas, que envolve
toda a faixa costeira.”
Nessas três regiões
podemos observar que Nampula esta na primeira e segunda, o que quer dizer que é
uma zona com maior incidência de práticas de queimadas descontroladas. De
acordo com os mesmos estudos, estimou-se que entre 6 a 15 milhões de hectares
de florestas eram queimados anualmente em Moçambique e entre 9 a 15 milhões de
hectares de outras áreas. Geralmente cerca de 90% de queimadas são resultados
das actividades humanas e restantes 10% são geradas por causas naturais e
desconhecidas. Nessa altura, em média, cerca de 40% do território nacional era
queimado anualmente, ilustrando a gravidade desta prática.
1.2.Justificativa
A escolha deste
tema deve-se ao factor das preocupações da dimensão global sobre as mudanças
climáticas, alteração dos ecossistemas e extinção de espécies biológicas como
por exemplo:
· A
Convenção Sobre Diversidade Biológica ratificada pela AR e publicada no dia 24
de Agosto de 94 Boletim Nr 34/94 procura proteger a riqueza da vida, incluindo
genes, espécies e ecossistemas;
·
A
Biodiversidade providencia bens e serviços, desde materiais de construção,
alimentos, plantas medicinais e água que podem aliviar a pobreza.
Com as queimadas os
animais na tentativa de fugirem do fogo, acabam se afugentando para muito
longe, deixando definitivamente as suas zonas de origem. Isso concretamente
acaba deixando algumas zonas pobres de recursos.
1.3.Pergunta da pesquisa
· Até
que ponto as queimadas descontroladas contribuem na desadaptação biológica e
fragmentação dos ecossistemas?
1.4.Objectivos
da pesquisa
1.4.1.
Gerais
· Perceber
até que ponto as queimadas descontroladas contribuem para a desadaptação
biológica e a fragmentação dos ecossistemas.
1.4.2.
Específicos
·
Descrever
os efeitos químicos-biológicos das queimadas descontroladas;
·
Demonstrar
os ambientes favoráveis à adaptação dos sistemas biológicos;
· Relacionar
os efeitos das queimadas descontroladas com a desadaptação biológica e fragmentação
do habitat;
1.5.Hipóteses
·
As
queimadas descontroladas tornam o ambiente nocivo aos sistemas biológicos
condicionando assim a sua desadaptação;
·
As
queimadas descontroladas destroem e desequilibram o habitat criando assim a sua
fragmentação.
I.
REVISÃO DA LITERATURA
1.1.Principais conceitos
Esta secção é
reservada para os conceitos das palavras-chave que fazem parte do tronco
principal do trabalho, assim sendo a seguir pode-se contemplar:
Palavras-chave: Desadaptação biológica; Fragmentação do habitat; e Queimadas
descontroladas.
1.2.Desadaptação biológica
Devido a escassez
de literaturas que tratam da “desadaptação biológica”, antes vamos ver de forma
fragmentada o significado das duas palavras (desadaptação biológica). Segundo o
dicionário online Desadaptação significa “perda da adaptação a uma situação ou a um meio de vida” seguido da palavra
biológica que nos traz a noção dos seres vivos que nos lembra “dos animais, entretanto,
plantas, fungos, protozoários, algas e bactérias e mais. Este termo foi usado com mais
ênfase na obra Eduard Goldsmith (1995) intitulada “Desafio ecológico”, onde ele
nos traz os desafios do homem moderno frisando que alimentamo-nos hoje de
produtos de uma agricultura intensiva que, recorre ao arsenal químico completo
que consequentemente as estruturas moleculares dos alimentos são alteradas,
diferente do que nos foi outrora adaptado.
Nesse sentido
podemos entender “desadaptação biológica” como a perda da capacidade de adaptação dos seres vivos ao meio ambiente em
que se encontram através da perda ou alteração das propriedades primitivas do
mesmo.
1.3.Fragmentação do habitat
[2]Refere-se às alterações em um habitat
original, terrestre ou aquático. Trata-se de um processo no qual um habitat
contínuo é dividido em manchas, ou fragmentos, mais ou menos isolados.
Acrescenta-se que o mais notório seja a fragmentação
florestal que são áreas de vegetações naturais interrompidas por barreiras
antrópicas (criadas por acção humana) ou naturais, capazes de diminuir significativamente
o fluxo de animais, pólen ou sementes. A divisão em partes de uma área antes
contínua faz com estas partes adquiram condições ambientais diferentes.
Segundo
Langanke (sd) é o fenómeno onde
uma área grande e contínua de um habitat específico é diminuída e/ou dividida
em duas ou mais áreas. Essas novas áreas menores, separadas umas das outras por
ambientes diferentes do original (muitas vezes degradados, ou construções
humanas), acabam se tornando mais isoladas.
Podemos
entender como uma área grande de um determinado habitat reduzidas em pequenos
fragmentos.
1.4.Queimadas descontroladas
Queimada
descontrolada é o uso de fogo sem controlo sobre qualquer forma de vegetação, podendo ser causada de forma espontânea ou
pelas acções e omissões humanas. As queimadas descontroladas, em
Moçambique, são principalmente de origem humana. Mais de 90% dos
incêndios florestais
em Moçambique são causados pelo ser humano.
As
principais razões para as queimadas incluem a queima para abertura de machambas (agricultura itinerante), mas também a caça, a
colheita de mel, o fabrico de carvão, bem como para
afugentar os animais bravios, das zonas residenciais rurais.
A maioria
destas queimadas termina com a queima de áreas maiores do que as que intencionalmente se pretende, resultando em extensas
áreas de queimadas descontroladas longe do foco da queimada, na
destruição da biodiversidade e dos habitats, na perda da
fertilidade de solos, entre outros.
1.5.Fundamentação teórica
1.5.1.
Efeitos químicos-biológicos das queimadas descontroladas
As queimadas
descontroladas trazem consigo varias consequências para o meio ambiente a
partir do solo, az plantas e os seres vivos que habitam nas florestas.
1.5.2.
Efeitos químicos
Cientistas
concluíram que a presença das cinzas das queimadas altera a composição química
do solo e, quando ocorre o escoamento superficial após uma chuva, substâncias
presentes nelas atingem as águas subterrâneas e superficiais, contaminando-as.
Compostos nitrogenados e potássio, especialmente, se solubilizam na água e, em
altas concentrações, se tornam tóxicos às espécies aquáticas e aos organismos
do solo e também afectam a qualidade da água.
Pesquisas
desenvolvidas apontaram que as cinzas de
queimadas provocaram na água subterrânea baixa oxigenação, aumento de pH
(potencial hidrogeniônico) e presença de compostos químicos, como potássio e
nitrato (nitrogênio nítrico). Os microcrustáceos e os peixes foram os mais
sensíveis às mudanças no ambiente aquático e as alterações também afetaram
espécies da macrofauna do solo, como os enquitreídeos (“minhoquinhas brancas”).
Uma das consequências
das cinzas das cinzas nos ambientes aquáticos é a redução de oxigénio
dissolvido na água em ambiente lêntico, ou seja, em água parada como em lagos,
açudes, poços e reservatórios. O oxigénio dissolvido é essencial para a
subsistência de peixes e outros seres aquáticos, além de auxiliar na
decomposição natural da matéria orgânica.
1.5.3.
Efeitos biológicos
Efeito do fogo nos atributos biológicos
do solo a acção antrópica exercida no solo por meio das práticas agrícolas como
queimadas, preparo convencional (aração e gradagens), plantio directo, entre
outros, afecta em maior ou menor grau os microorganismos e a fauna edáfica que
utilizam o solo como habitat (LAVELLE et al., 1989) e, que por sua vez, exercem
funções importantes no solo como a ciclagem de nutrientes (ASSAD, 1997).
O estudo de Lopes et al. (2009)
demostrou claramente que a área queimada apresentou menor número de indivíduos,
de espécies, menor valor de área basal dos troncos das árvores de cerrado e,
por conseguinte, do Índice de Diversidade de Shannon (H’) e Equabilidade (J’)
e, portanto, o fogo exerceu papel relevante na modificação da estrutura da
vegetação.
Segundo a embrapa (2019) quando as espécies aquáticas e os organismos de solo ficaram
maior tempo expostas às cinzas em alta concentração (a partir de 50 gramas de
cinza em um litro de água), as espécies não sobrevivem.
1.6.Ambientes favoráveis à adaptação dos
sistemas biológicos
Apesar da grande
quantidade de seres vivos existente, eles podem ter características que diferem
estes daqueles principalmente quanto às respostas a estímulos do ambiente,
capacidade e necessidade de nutrição, capacidade de adaptação ao meio e mais.
A teoria da selecção
natural ensinou-nos que os seres vivos lutam pela sobrevivência e o ambiente selecciona o organismo
mais apto a viver nele. O que quer dizer, cada organismo vivo que encontramos
em cada zona é porque as condições do ambiente da zona são favoráveis a sua
adaptação e consequentemente a acomodação.
1.7.Queimadas descontroladas e a desadaptação
biológica
Goldsmith (1995)
argumenta que “quando o meio se
fasta das suas condições óptimas maior se torna a desadaptação biológica”, esta frase vem nos recordar que cada
vez mais que o homem incide práticas nocivas ao ambiente, ele vai perdendo as
suas propriedades primitivas e consequentemente os seres vivos nele contidos
vão perdendo o seu poder adaptativo, ou seja, o ambiente passa a ser hostil
para os seres que antes se sentiam seguros nele.
Quando um animal é exposto a uma
situação adversa, ele pode reagir de muitas maneiras, fugindo, enfrentando ou
buscando uma nova forma de adaptação. As diferentes formas de reagir aos
estímulos do ambiente podem levar a melhores chances de sobrevivência.
E no meio de uma
situação hostil alguns seres vivos podem facilmente se afastar porque a sua
condição física os permite locomover-se mais rápido para outras zonas e se
salvarem, mas infelizmente outros não. Como por exemplo em questões de
queimadas descontroladas para alguns seres biológicos o fogo passa por cima,
estamos a falar dos microrganismos. Como anteriormente vimos que quando as espécies aquáticas e os organismos
de solo ficaram maior tempo expostas às cinzas em alta concentração (a partir
de 50 gramas de cinza em um litro de água), as espécies não sobrevivem, então
podemos dizer que este organismo foi forcado a desadaptar-se por conta das
condições que lhe foram impostas.
1.8.Queimadas descontroladas e a
fragmentação do habitat em Moçambique
Um
habitat é destruído quando ocorre uma mudança em suas características que causa
a destruição desse ambiente ou quando há mudanças intensas que descaracterizam
o local original. A pecuaria as queimadas, o desmatamento e
a ocupação humana são alguns dos importantes exemplos de factores que provocam
a destruição de habitat. Acredita-se que esse problema seja um dos
principais responsáveis pela extinção de espécies.
As queimadas descontroladas, em Moçambique,
são principalmente de origem humana. Mais de 90% dos
incêndios florestais em Moçambique são causados pelo ser humano. Estima-se
que entre 6 a 10 milhões de hectares de florestas são queimadas anualmente,
em Moçambique, o equivalente a 7 e 12% do território nacional; – entre 9 a 15 milhões de
outras áreas são queimadas anualmente, o equivalente de 11,2% e 18,7% do
território nacional; – as queimadas descontroladas
são fontes de emissão de gases que contribuem para as mudanças do
clima global e a degradação dos recursos naturais.
Tabela1. Meses de pico das
queimadas descontroladas por província em Moçambique
Embora o fogo tenha
efeitos benéficos em alguns ecossistemas, este tem impactos na cobertura do
solo, bem como na dinâmica da comunidade quando o regime natural do fogo
ultrapassa a sua faixa de variabilidade, alterando assim o regime e, levando
desta feita a vários danos, podendo quando frequentes, resultar em perda de
habitat, fragmentação florestal, mudança na composição, bem como levar à
redução de pequenos mamíferos que é também acompanhada pela perda de predadores
(Barro e Conard, 1991).
“Na cadeia alimentar, as plantas sustentam todo o ecossistema. Quando são retiradas, ocorre uma cascata trófica”. Enquanto esse sistema começa a entrar em colapso, as espécies que estão lá dentro tentam sobreviver de alguma forma. Diante da alta demanda por energia via cadeia alimentar, os predadores do topo acabam sendo os primeiros a fugirem ou a sucumbirem à destruição de seu habitat.
VI.
CONCLUSÕES
Mediante o que foi
pesquisado e apresentado neste trabalho, conclui-se que:
·
As queimadas descontroladas
destroem habitats naturais desencadeando assim o rompimento da cadeia alimentar
e consequentemente o despovoamento das zonas catastróficas.
·
Polui nascentes, águas
subterrâneas e rios por meio das cinzas que por sua vez hostilizam o ambiente
dos sistemas biológicos aquáticos que pode provocar até a sua extinção;
·
Mata microrganismos que auxiliam
no desenvolvimento das plantas, não só, também são importantes na produção dos
nutrientes de solo e fazem parte da cadeia alimentar que não pode ser rompida;
·
Aumenta da liberação de dióxido
de carbono, uma das principais causas do aquecimento global.